domingo, 16 de outubro de 2016

Colhendo

Hoje realizamos a 16º apresentação de nossa temporada de estreia. Desde a primeira sessão foi possível sentir o potencial desta obra voltada ao público de todas as idades. As crianças estão maravilhadas com esse JARDIM. O adulto que presencia e acompanha esse encantamento das crianças e se deixa contagiar pelo riso solto dos pequenos, pelos silêncios de contemplação, pela envolvimento da platéia enquanto a personagem desta trama, chamada de Aurora,  enfrenta os desafios de sua trajetória. 

Mas e quando essa criança não está presente em maior número na platéia e o adulto não se permite brincar e sorrir e o envolvimento, a identificação não acontece, pelo menos, não como poderia acontecer?

Quando temos plateias de crianças depoimentos sinceros me colocam diante de meu primeiro personagem no teatro para crianças capaz de causar uma identificação e uma comunicação diretas. Ao final da sessão estamos íntimos pois vivemos juntos as aventuras deste personagem "maluco". E essa sensação enebriante provocada pela fruição deste "Jardim" não acontece com plateias predominantemente de adultos.

Quem me ajudou a perceber um pouco dessas coisas foi o Lucas Mattana, companheiro de trabalho, típico "piá de teatro". Filho de um casal de atores, Lucas passou boa parte de sua vida no teatro, rapaz boa pinta, super inteligente e de um coração bem grande. Quase todos os dias, conversamos um pouquinho sobre nossas percepções, filosofamos sobre nossa temporada. E um de seus instigantes cometários sobre o recepção do público foi: " Parece que o adulto precisa da criança para entender esse Jardim".

Isso me faz pensar muito. Durante a semana fazendo apresentações fechadas para crianças de escolas públicas, temos um tipo de experiência e durante os finais de semana, onde temos menos crianças e muito mais adultos a experiência é outra.

Crianças são muito sinceras, principalmente quando estão com outras crianças. Já fiz espetáculos onde as crianças muitas vezes acabavam interferindo de uma maneira desastrosa atrapalhando o desenrolar da trama. Neste casos, com o tempo já sabíamos o que nos esperava na hora da "barriga", termo muito utilizado  no teatro para definir os momentos de dispersão da platéia, quase sempre, nos mesmos pontos do espetáculo apontando possíveis fragilidades. 

Tudo influencia a recepção que a criança tem de um espetáculo, a maneira como ela saiu de casa, a chegada até a escola,  o trajeto da escola ao teatro, a espera até o espetáculo começar. Mas envolver a criança através de um espetáculo onde o fio condutor é a poesia tem me trazido um sentimento de alegria profunda com o trabalho até aqui realizado, ajudando-me a  superar antigos preceitos sobre as dificuldades de se receber uma plateia que as vezes já chega cansada ao teatro.

Tínhamos muitas dúvidas sobre a maneira como a criança iria receber esse espetáculo. Poesia para crianças, falar de vida e morte de forma simples mas profunda, parecia ser bastante arriscado. E é. Cada sessão é diferente. As vezes a plateia é ruidosa, comenta, torce e vibra pela personagem. As vezes o silêncio impera revelando uma criança boquiaberta com suas descobertas. Mas em ambas a curiosidade abre caminho para o encantamento e o teatro acontece.

Muito obrigada equipe! Muito obrigada Cristine Conde, Mauro Zanatta e Carolina Santana!!! Obrigada por essa oportunidade de fabricarmos sonhos preconizando o amor.

Que a gente posso continuar colhendo frutos desse Jardim. Que ele possa suscitar o desejo de pensar e pensar e pensar sobre o teatro e nossas crianças e nossas escolhas...


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